quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Fusca com motor de Ferrari

Lembro de haver lido na década de 80 um teste de um automóvel de luxo onde o autor afirmava que aquele exemplar possuía, em termos similares, "mais motor que carro". No caso o veículo, caro e luxuoso, recebera uma unidade motriz com alta potência, mas não recebera chassis e suspensão aptos a lidar com tamanha força. Deste fato nascia um conjunto de três consequências ruins e interessantes para analisarmos.

A primeira consequência é a de que o proprietário do veículo, sabendo desta característica de sua nova aquisição, ficava muito decepcionado por haver comprado "gato por lebre". Olhando na loja o reluzente e confortável sedã ele tinha certeza que valia cada centavo de seu caro valor. Sentindo-se enganado ele provavelmente iria nutrir séria desconfiança daquela marca em suas futuras compras.

A segunda consequência seria instabilidade e insegurança. Tendo "motor demais" o carro seduzia seu motorista a "pisar fundo" e consequêntemente ele sentiria grande insegurança quando, em alta velocidade, percebesse a instabilidade daquele conjunto. Derrapadas e até viradas poderiam ocorrer pela falta de estabilidade, causando danos e até morte aos ocupantes e a terceiros na via. Em situações adversas, como chuva e curvas sinuosas, o medo seria uma constante aos passageiros que, num segundo, iriam esquecer a beleza e o luxo do ambiente, que nada valiam quando a vida estava em risco.

A terceira consequência seria a fadiga prematura daquele conjunto. Submetido a esforços aos quais não estava preparado, várias partes poderiam apresentar folgas, danos estruturais e até mesmo acidentes em decorrência de quebra de algo vital à segurança. O veículo iria "se acabar" mais rápido, envelhecer de forma precoce devido a desgastes em sua estrutura.

Fato similar ocorre quando alguém adquire muito conhecimento mas, em contrapartida, não adquire maturidade na mesma proporção. O cidadão possui mais conhecimento que sua maturidade suporta. "Muito motor e pouco carro".

Novamente vemos as consequências, parecidas, respeitadas as diferenças, com as que ocorrem no caso do carro.

Quem conhece aquela pessoa tem uma primeira impressão maravilhosa ao contemplar a sabedoria da mesma, todo aquele conhecimento. Sensação parecida com a sentida pelo motorista da historinha ao ver o carrão no pátio da concessionária. É fantástico! Ao conhecer mais de perto os fatos ambos, o motorista e quem conheceu o instruído sem maturidade, sentirão decepção similar, pois infelizmente nem tudo é o que parece.

A instabilidade do veículo em situações adversas também será sentida, na mesma essência, por este nosso amigo que vai conviver com o sábio sem maturidade. Quando este sábio passar por situações adversas na vida terá a mesma dificuldade do veículo pra lidar com elas. Como confiava muito em seu conhecimento ele "pisa fundo" em certos aspectos da caminhada e, nas curvas sinuosas da vida, pode derrapar e até capotar, machucando e até matando, tanto quem está do seu lado, quanto a terceiros nas proximidades. Tudo porque possuía o conhecimento mas não a maturidade necessária para dar estabilidade ao conjunto. O interessante é que, tanto os passageiros do carro como os companheiros da figura humana aqui analisada, sempre sentirão insegurança ao passar por aquelas situações. O perigo será sempre presente.

Da mesma forma que haverá desgaste prematuro e possíveis rupturas estruturais no nosso veículo ora analisado, tal fato também estará presente na figura humana que estamos a observar. Todo o conjunto de seu ser irá se desgastar pois a "graxa da maturidade" não está a lubrificar as "engrenagens da alma". A estrutura não está preparada para suportar as velocidades impostas pelo ritmo de caminha que foi imposto com base apenas no conhecimento. O envelhecimento prematuro, as sequelas estruturais virão bem antes do tempo. E as consequências serão imprevisíveis como no veículo que descrevemos.

O equilíbrio do conjunto é o que resolveria estes dois casos. No caso do carro é difícil pois não compensa financeiramente gastar na estrutura, vende-se e compra-se outro mais equilibrado. No caso da figura humana é difícil porque o conhecimento tenta impedir que se enxergue as limitações estruturais que a falta de maturidade proporciona. Mas no caso do ser humano há esperança. Uma "varredura" de humildade em toda a "carroceria" permitirá que ajustes sejam feitos e aos poucos, respeitando-se os limites de velocidade, a maturidade venha a se juntar ao pleno conhecimento, produzindo a estatura de "varão perfeito".

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