sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Irmão, você é o que mesmo?

"Irmão, você é o que mesmo?" Já escutei esta pergunta algumas vezes indo pregar em igrejas de amigos. O pastor fica agoniado pois não sabe "o que eu sou" e precisa me apresentar para a igreja. Creio que eles esperam pelo menos um "diácono" como resposta, pra que haja algum crédito inicial da membresia para com o pregador.

"Sou só um crente de banco", costumo dizer me segurando pra não brincar com a situação. Aí meio encabulado ele apresenta o "irmão"... É interessante como as pessoas gostam de títulos.

Meu caso causa mais estranheza pois estou na igreja evangélica desde a pré adolescência e, pra muitos é deveras esquisito eu não ser nunca promovido a nada!!! O que esse cabra fez de tão ruim pra ainda ser "soldado raso" em mais de trinta anos de quartel? Com 42 anos eu já deveria ser "alguma coisa" né? Meus amigos de início de Betesda, início mesmo pois meu irmão Adalberto começou a me levar no tempo do Pr. Ademir Siqueira, já alcançaram muitos deles boas "patentes" na obra.

Quando fui questionado a primeira vez tirei algumas conclusões que compartilho aqui. Penso que Deus é sábio ao guiar nossas vidas como Ele deseja e, observando hoje o passado, sinto-me até confortado de perceber o cuidado do Senhor com minha vida.

Passei aproximadamente vinte anos de minha vida de igreja, dez solteiro e dez casado, vivendo em uma religiosidade farisaica exemplar! Aprendi muita coisa boa, conheci muita gente boa e tive muitas experiências esporádicas maravilhosas com Deus. Mas minha vida era um tobogã de sobe e desce. Por "baixo dos panos" eu tinha múltiplas vidas de pecados. A coisa era tão ruim que meu testemunho não deve ser dado, pelo menos nos dias atuais, mas apenas compartilhado partes dele em situações específicas de conversas pessoais com alguém que precise de ajuda em algo similar ao vivenciado por mim e minha família. Até hoje devo dar sempre graças pelo amor do Senhor em me resgatar sem realmente nenhum merecimento de minha parte.

Vendo isto percebo o cuidado e o amor de Deus. De que adiantaria eu ser consagrado a algo? Pra escandalizar a obra? Pra ser mais um na multidão de hipócritas nos púlpitos e ministérios por aí afora? Lembro do que já citei aqui no blog de uma opinião do Billy Graham, "45 anos se preparando pra cinco anos na obra vale mais que 50 anos na obra". O crecimento na graça gradual, lento mas progressivo me parece realmente o mais sensato, a sabedoria divina. Hoje estudo teologia mas de fato não tenho a menor idéia, apenas a esperença, se um dia Deus irá usar algo deste conhecimento através de um trabalho na obra a ser realizado por minha vida. Claro que às vezes vislumbro imagens em minha mente (não visões, mas pensamentos) estando eu pregando de uma forma que considero a ideal, a forma de quem está realmente vivendo aos pés da cruz. A imagem vem e vai e quando compartilho com a Sonia ela diz logo que é de Deus, e tudo mais que se diz nestas horas, ela diz logo também que sou frio, sem fé e aí a peia começa...

Nas vezes que preguei considerei um fracasso, fraquíssimo, apesar dos outros dizerem o contrário, provavelmente por misericórdia do pregador. A Sonia disse que da última vez foi bem melhor, que estou melhorando, sendo mais solto, que era muito frio, sem fogo, mais presbiteriano que pentecostal e por aí vai. De fato vejo a pregação uma missão muito séria.

Meu critério de como deve ser o pregador pra obra é bem alto. Minha família ainda precisa estar mais bem "pastoreada" por mim, meu filhos ainda estão longe do ideal no relacionamento com Deus, os problemas domésticos estão em fase gradual de melhora, meu testemunho e minha vida de comunhão com Deus ainda está muito fraca a meu ver, o que me traz a duas conclusões. É reconfortante não ser nada pois o peso de se considerar um obreiro "devagar", de testemunho questionável, seria uma verdadeira tribulação mental e espiritual. A autenticidade é algo muito valioso. A transparência é de valor imensurável, nada como a paz de espírito. Por outro lado o risco do comodismo, da omissão e da negligência me empurra pra cobrar a mim mesmo a necessidade de melhorar de forma gradual, mesmo meio devagar mas constante, sendo de vez por todas liberto do antigo tobogã da falsidade. Seremos cobrados dos talentos que Deus nos concede para mostrarmos se os deixamos enterrados ou multiplicamos os frutos, daí preciso crescer na graça, no conhecimento e em frutos dignos. Agorinha mesmo parei de teclar porque o meu filho derramou um molho na geladeira e ficou tudo um ó! Daí de forma nada branda, sem nehuma preocupação com o testemunho aos vizinhos, deixei o netbook na cama e saí cuspindo fogo, falando aos berros sem nem lembrar do "em tudo dai graças"... É destas coisinhas que busco a transformação do alto, para só assim ter um mínimo de autoridade para assumir qualquer tipo de consagração na obra. Deus é maravilhoso em nunca ter permitido que eu fosse mais um obreiro medíocre neste mundo gospel atual, ou como dizíamos aqui em casa, um "crente fuleragem" a escandalizar a obra. Na minha vida farisaica eu falava com "autoridade" exortanto um amigo e até hoje a esposa dele é escandalizada com o fato de que eu "pregava tanto pro fulano e era um sem vergonha!" Esse tipo de vida nunca mais.

Me transforma Jesus, só assim podemos produzir a dez e a cem por um!

Há tempo pra tudo debaixo do sol.

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