quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um grande dilema

Quem passa por aqui a primeira vez deve dizer "este cara é um amargurado, um rebelde e revoltado" devido a tantas "lastimações" presentes nas postagens. Eu fico a me questionar o porquê já que é desagradável se encontrar diante de tanta coisa ruim e logo vejo os fatos. Onde quer que andemos, com quem quer que conversemos, vemos nos crentes de forma geral, pelo menos nos que costumam pensar um pouco, uma insatisfação com a igreja atual, como a Palavra fala da criação assim está o povo: "gemendo pela redenção". Essa insatisfação e angústia não é com determinada congregação mas com praticamente todas. O ditado de que "homem é tudo igual só muda o CPF" passa a ser, infelizmente, aplicado por muitos em relação àquela que deveria ser luz no mundo e sal na terra.

De um lado os pastores clamando para que nos congreguemos pois a igreja, a eclésia é o lugar, o quartel de todo cristão. É na unidade da igreja que o Senhor opera seu realizar no mundo e através dela que o "ide" é realizado. Quem se isola vai contra a sabedoria, está na Palavra. Não existe na Bíblia, pelo menos de forma geral, a figura do cristão "cavaleiro solitário. Concordo com tudo isso mas infelizmente a teoria é linda e na prática a coisa complica um pouco.

Costumo dizer que o banco é o melhor lugar da igreja. Lá você recebe alimento, louva, ora e vai embora! Não se envolver significa não saber, não saber nem o lado bom nem o ruim dos bastidores, é uma maravilha! Mas a árvore precisa produzir frutos, de fato sentimos necessidade de produzir frutos e apresentá-los em louvor ao Pai. Aí é que mora o perigo, é neste ponto que ocorre o "nó cego" (erros que nunca são corrigidos) e encontramos "parafusos estrompados" (ouvidos que ouvem conselhos, admitem o erro e nunca mudam).

Vamos a um caso real. Um irmão amado que frequenta uma igreja histórica compartilhou sua decepção com seu ministério. Escândalos, falcatruas e hipocrisia. Inclusive ele evita ir às reuniões de ministério porque, segundo ele, não fica calado, é um "bocão", daí se torna mal visto pelos demais obreiros. Encontramos nesta realidade alguns tipos de pessoas. Os que se calam porque querem ser aceitos, os que são da mesma "catiguria" dos desmantelados ou os que simplesmente tem a mente anestesiada pela falta de sabedoria, ou pior, anestesiam o próprio cérebro para não enfrentar a realidade, um tipo de omissão.

"Vamos calar pelo bem da unidade". Será mesmo o bem? João Batista calou diante da religião corrompida? Jesus calou quando viu mazelas nos obreiros (escribas e fariseus) da época? Paulo calou? E ele disse "sede meus imitadores como sou de Cristo".

Aí aparece o grande dilema título desta postagem. O que fazer? Encontrei algumas idéias, como que vindas de um "instinto de sobrevivência" do cristão, e ouvi também um posicionamento de outro amado irmão.

Acredito que cada um de nós recebe de Deus três ministérios na conversão. Cuidar dos nossos entes sendo sal e luz em nosso lar, evangelizar nossos vizinhos e sermos testemunhas vivas de Cristo em nosso local de estudo e trabalho. Só aí você já vê que não consegue dar contas de tudo de forma plena. Mas temos no modelo de igreja retratado na Palavra, e no fundo de nossa alma a necessidade, a agonia de produzirmos frutos dentro da igreja. E isto é cobrado e estimulado pelas lideranças. Fica então a pessoa em grande dilema quando se vê pressionada a trabalhar na igreja e, ao mesmo tempo, ser obrigada a receber a "unção do calango" e a "unção da lagartixa", balançar sempre a cabeça pra tudo, e ainda ter a "unção das havaianas", ser própria pra ser pisada, sob pena de, não tendo estas "unções", receber o título de rebelde e insubmissa. Digo isto porque quando você vai ao "backstage", para o fundo do palco, infelizmente é muito provável encontrar mazelas.

Outro irmão abençoado contou que seu ministério, o dado por Deus, ele exerce independente da igreja. Se na igreja o barco está andando bem ele ali está dando frutos, se o barco afundar ele continua dando frutos, pois não está dependente, amarrado à estrutura da organização para exercer o que Deus o comissionou. Esta conduta pode parecer incoerente com o modelo teológico da eclesiologia, mas vejo como o instinto de sobrevivência se sobrepondo numa época de uma religiosidade muitas vezes falsa e com conduta incoerente com o que se prega. Este instinto se desenvolve na vida real, em anos e anos que você convive em diversos ministérios e vê escândalos, divisões, falsidades e mentiras. Este instinto não se desenvolve em livros de teologia nem nos bancos dos seminários, mas na vida real, a que estamos vivendo e nos relacionamentos que construímos. Este instinto é moldado em "sangue, suor e lágrimas". Ele é solidificado quando você questiona seu líder a viver o que ele prega e o que diz a Palavra e ouve um "...você deve procurar outro ministério pra se congregar...", como ocorreu no caso concreto deste amado irmão.

A lista de mazelas é interminável. Não precisa "debulhar o rosário" pois você leitor já viu ou foi vítima de algumas delas, só espero que não sejas o "fazedor de mazelas", o instrumento a escandalizar o irmão, a pisar nos que devem ser amados, a esmagar os que já chegaram à igreja machucados, pois ai de ti se assim procederes pois de Deus não se zomba e Ele pedirá contas a ti de cada ovelhinha que maltrataste. Mais sábio é ouvires o conselho de teu semelhante, te humilhares, pedires perdão e buscares mudança de vida do que caíres na disciplina divina, ali o estreito se torna apertado e não se sai sem muitas dores e lágrimas. Tenho visto isto ocorrer algumas vezes e não vejo nenhuma sabedoria em tal conduta de rebeldia, não para com uma instituição corrompida um uma liderança hipócrita, mas rebeldia contra o próprio Deus.

Aconselhei o primeiro irmão, aquele que evita ir às reuniões a, pelo menos por enquanto, ir à igreja no estilo "de banco". Orar, louvar, congregar com os amados, orar pelo outro e pedir oração e ser alimentado da Palavra. Por outro lado deve procurar não parar de frutificar, mas sem um vínculo de submissão aos ministérios estruturados na instituição, pelo menos por enquanto. Visitar enfermos, distribuir folhetos, e obras similares, esqueci até de mencionar os três ministérios "lar, vizinho, trabalho" que mencionei acima. Mas como sei que ele lerá estas linhas o recado está dado.

É com pesar e tristeza, como sentiram tantos homens na Bíblia quando viram a corrupção onde deveria haver santificação, que escrevo esta e outras postagens similares. Não sou amargurado nem rebelde, não sou "mal resolvido" ou recalcado, nem muito menos desejoso de estar no "pedestal" da liderança, longe de mim tal marmota, pois a humildade deve ser a maior característica do autêntico obreiro. Só fico triste com os fatos, e se eu que não sou nada fico assim, imagine Deus.

Paz do Senhor pra todos.

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