A probabilidade de erros e equívocos na administração da obra é
diretamente proporcional à forma de governo da instituição. Em muitas igrejas,
a forma de governo é a episcopal, onde um líder decide soberanamente, sem a
necessidade da aprovação dos membros, sobre os rumos da obra e consequentemente
sobre o uso do que é coletado. Neste caso, muitas vezes a igreja dificilmente é
ouvida, ou tem o direito de opinar sobre a remuneração pastoral, a chamada
prebenda.
Em alguns casos os líderes recebem percentuais de 30, 40 ou de até 50%
de tudo o que é arrecadado (ou dos dízimos, já que a maioria os exige) sem
haver limite máximo do que se recebe e sem se levar em consideração se o mesmo
tem uma fonte de renda secular ou se irá devotar dedicação exclusiva de seu
tempo à igreja.
Nesta conduta, este grupo se afasta bastante do que era vivenciado na
igreja primitiva. Não se leva em conta ali o sustento digno do obreiro, pois,
de fato, ele pode vir a ganhar valores exorbitantes.
Tal fato constitui uma verdadeira agressão moral aos irmãos
necessitados que congregam naquela comunidade e que dela nada, ou quase nada,
recebem de ajuda para seu sustento, algo totalmente diverso do vivenciado pelos
primeiros cristãos. Este péssimo testemunho macula a imagem da igreja.
Em alguns casos, existe uma suposta participação dos obreiros nas
decisões financeiras, mas, de fato, existe o risco de que a votação seja apenas
pró-forma, pois é comum que a vontade de um líder carismático não seja
questionada por nenhum membro, já que ninguém gosta de criar um “clima
desagradável” com seu querido pastor. Evita-se ainda o risco de se receber o
rótulo de “questionador” ou “rebelde”. Dificilmente um questionador é indicado
a cargos de proeminência na obra, antes pode ser colocado de lado até que se
sinta desconfortável e busque outra igreja para congregar.
A falta de moralidade, bom senso, base bíblica e de transparência
abala a credibilidade da obra. Num mundo cheio de escândalos é necessário que
todos saibam e opinem sobre o rumo que se dá ao que é arrecadado. “Dê para Deus
e esqueça” é um ditado muito comum.
Já nas igrejas cuja forma de governo é congregacional, existe uma
participação maior dos membros no planejamento e execução das despesas da
igreja através de assembleias realizadas especificamente com este propósito.
Nesta forma de conduta as pessoas se sentem realmente congregando, realmente
participando e construindo a obra em comum acordo e não apenas na posição de
meros espectadores que nada podem opinar mesmo diante dos maiores descalabros e
imoralidades financeiras realizadas com o tão suado dinheiro dos irmãos.
Cabe ao pastor zelar pela transparência na gestão de recursos, buscar
sempre ouvir a igreja antes de decidir os projetos que almeja implantar com a
verba arrecadada. É óbvio que o pastor busca e recebe direção de Deus, mas a
prática tem mostrado que muitos “projetos de Deus” depois de certo tempo se
mostram de fato como projetos humanos. O fato de o pastor buscar direção de
Deus não o impede de pedir que a igreja também ore e busque ao Senhor antes de
qualquer assembleia que irá tratar do assunto.
A administração eclesiástica, quanto ao aspecto financeiro, pode
aprender muito com modelo de administração condominial, onde um gestor cuida do
interesse de um bem que de fato pertence a todos e que todas as suas decisões
podem gerar benefícios ou prejuízos a todos. Neste modelo de gestão, quanto
mais se compartilha as responsabilidades e as decisões menor a carga nos ombros
do gestor e menor o risco de erro, inclusive a Bíblia já recomenda: “Não
havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há
segurança.” Pv 11: 14 (ARA).
A prebenda pastoral deve, caso seja baseada em um percentual, ter um
limite máximo para que se evite a tentação de sempre pedir mais e os ganhos
exorbitantes. Este limite deve obedecer ao bom senso no sentido de que um
pastor que dedique seu tempo exclusivamente à obra não pode receber o mesmo
valor de um que tem emprego secular e, em alguns casos, sequer necessitaria de ajuda.
Paulo nem sempre precisou de ajuda, pois trabalhava, conforme Atos 20:
33-35. Algumas denominações já centralizam o controle financeiro e deixam
congregações e seus dirigentes com poucos recursos para gerir a obra, um erro
que sufoca a muitos.
Um líder segundo o coração de Deus jamais causará escândalos e nem
prejudicará a própria alma por causa do dinheiro. Antes será sábio e atentará a
este conselho fundamentado nas Escrituras:
A coisa certa a
fazer na área do dar é ensinar as verdades da Palavra de Deus e, em seguida,
deixar o Espírito de Deus gerar a resposta junto com todo o restante dos frutos
espirituais. E assim nós ensinamos a Palavra de Deus. Nós não usamos
artifícios, não usamos programas, apenas ensinamos a Palavra de Deus crendo que
o Espírito de Deus irá produzir nas vidas um tipo de doação compatível com o
estilo de vida. (MACARTHUR, 1975b, tradução nossa).